III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal
Introdução
Os projetos atlas
Os atlas são considerados como ferramentas fundamentais para a gestão e conservação das populações de aves selvagens. O seu conceito e aplicação tem sido implementado em vários grupos animais, e também nas plantas, constituindo atualmente peças essenciais para um melhor conhecimento da distribuição da biodiversidade.
É certo que, desde o momento em que a Ornitologia se desenvolveu enquanto ciência, o conhecimento da distribuição das diferentes espécies de aves tem sido um dos seus objetivos principais. A procura desse conhecimento tem sido impulsionada tanto por ornitólogos profissionais como amadores. Os atlas são, por isso, projetos que aproximam a comunidade ornitológica. A abrangência nacional, a inclusão de todas as espécies de aves e a relativa acessibilidade da metodologia de campo, contribuem normalmente para envolver um grande número de ornitólogos e entidades. As várias fases destes projetos agregam quer pessoas com interesse generalista na observação de aves, quer especialistas em determinados grupos e espécies. O seu envolvimento é feito individualmente, ou através de organismos da administração pública, associações, universidades, empresas ou outros grupos. Esta tem sido a regra em Portugal, que tem já um grande historial de projetos de atlas nacionais e regionais.
O III atlas das aves nidificantes
Em 2015, passavam dez anos sobre a conclusão dos trabalhos de campo do II Atlas das Aves Nidificantes, colocando-se então um grau de desatualização do conhecimento sobre a distribuição das aves reprodutoras que era necessário ultrapassar. Por essa razão, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), em conjunto com mais três parceiros - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora (LabOr/UÉ) e Parque Natural da Madeira (atual Instituto das Florestas e Conservação da Natureza ou IFCN) -, deram início ao III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal. O projeto estava inicialmente previsto decorrer em cinco anos (2015-2019), mas dificuldades e atrasos na obtenção de financiamento e a pandemia de COVID-19 levaram a um prolongamento do projeto até 2022.
Um dos objetivos principais do III Atlas das Aves Nidificantes é a atualização do conhecimento sobre a distribuição e a abundância das espécies de aves nidificantes no território nacional, incluindo a totalidade do território de Portugal Continental e das regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Esta é uma informação fundamental para a gestão do território, nomeadamente para a proteção e gestão das espécies de aves selvagens.
Outro objetivo do atual atlas, consiste na comparação dos resultados atuais com o conhecimento prévio dos padrões de distribuição das espécies. Com esta comparação, procurámos avaliar as alterações dos padrões de distribuição e identificar situações de regressão, passíveis de contribuir para o aumento do risco de extinção das espécies. Esta é uma informação importante para a atualização do estatuto de ameaça das espécies e para a elaboração da Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental.
Um trabalho desta dimensão não podia ser realizado recorrendo apenas à capacidade das quatro organizações parceiras. Este projeto teve o apoio financeiro do PO-SEUR, do Fundo Ambiental e do 2º Atlas Europeu das Aves Nidificantes (EBBA2/Swiss Ornithological Institute). Teve também o apoio, através de trabalho voluntário, de várias organizações, como o Cornell Lab of Ornithology, PortugalAves/eBird, BirdLife International, EBBA2, MAVA Foundation Direção Regional dos Recursos Florestais (Açores), Direção Regional de Políticas Marítimas (Açores), Universidade de Coimbra, Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, CIBIO/Universidade do Porto, que se associaram ao projeto, fornecendo dados e várias capacidades a título colaborativo. Por fim, mas sem dúvida o aspeto mais importante, importa referir que o III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal contou com a participação voluntária de mais de três centenas de ornitólogos e observadores de aves que deram o seu tempo e trabalho em várias áreas, como a Comissão Científica, a realização de visitas sistemáticas às quadrículas, a coordenação regional, a revisão dos dados carregados na plataforma online PortugalAves/eBird, a ilustração das espécies e a elaboração de textos sobre as espécies.